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Carolina Hungria/ Notas de uma jornalista operando no limite.

17.5.03

Na década de 70, o fotógrafo Neal Ulevich fez retratos de vários correspondentes que cobriram a guerra no Vietnã. Entre os fotografados estão Peter Arnett, Larry Green, Hugh Mulligan, Hunter Thompson e Nick Ut. Confira aqui.
Larry Burrows foi um dos grandes repórteres fotográficos dos EUA. Burrows trabalhou na Life e publicou principalmente fotos da sua cobertura da guerra no Vietnã. Era mestre em retratar os dois lados da tragédia. Das imagens memoráveis das perdas americanas - enquadramentos agora proibidos pelo governo dos EUA no ataque ao Iraque - uma das mais importantes é esta, registrada no sul do país, próximo à Da Nang, após uma tentativa de resgate mal sucedida. O drama, em preto e branco, mostra dois corpos em primeiro plano e um soldado logo atrás, num desespero que o impede de segurar o próprio colega ferido. Essa foto foi capa da edição de 16 de abril de 1965. O caos também é evidente na batalha de Dong Ha, em 1966. Nessa foto, soldados feridos se misturam a lama, armas, tendas e fogo. A foto feita em Hué é, para mim, uma das mais significativas de Burrows. E mostra a morte da população local. Capta a angustia de uma jovem que perdeu o marido.

Durante sua carreira, Burrows assinou a foto de capa da Life quinze vezes. Dez dessas imagens foram clicadas no Vietnã.

4.5.03

adivinha quem ganhou a licitação para reconstruir o sistema de saúde do Iraque?! Vou dar uma dica: a sede fica num estado chamado Massachussetts... O investimento inicial será de US$ 10 milhões. E Bush já avisou na TV que o dinheiro virá do próprio petróleo iraquiano, lembra?
Must interview person para a minha matéria de body modification: o reverendo Richard Frueh, presidente da Church of Body Modification. O slogan da organização é "body, mind, soul" e ela fica, claro, nos EUA. Mas meu preferido é outro reverendo, o Louise, pai de um recém-nascido que se descreve assim: "2 1/2 Earlobes. 7/16 Septum. (2) 4g Labrets. 10g Tongue piercing. 14g Earl. Tongue Split. 3rd Generation Subdermal Horns. 2g Subdermal CBR in right hand. 6g PA. 6g Frenum. (4) 6g Scrotals". A CoBM (sigla usada por eles) aceita pessoas de todas as religiões, "que tenham em comum as práticas antigas de modificação do corpo como rito de passagem essencial para a nossa espiritualidade". Além do presidente, que fica em Illinois, a igreja tem representantes em Pennsylvania, Flórida, Arizona, Oregon e Canadá. Eles não deixam de ter uma lojinha virtual, com jaquetas, camisetas e, claro, alargadores.

2.5.03

Resolvi voltar um pouco no estudo da guerra do Vietnã e lembra o período pré-Vietnã. O início da década de 60 foi de relativa calmaria, considerando que o mundo estava em plena Guerra Fria. A pior fase já havia, de fato, passado: de 1947 até a guerra da Coréia, que acabou em 1953 e matou muita gente. Com a morte de Lenin, entra no poder Kruschev, que era um pacifista, mas não teve muita chance na Rússia - talvez por sua política de aproximação com a Casa Branca, quem não lembra da famosa "linha quente", que, dizem, ligava a moradia do presidente dos EUA, Kennedy, ao Kremlin. Coincidência ou não, os dois superpoderosos deixaram seus cargos por volta de 1963. Kennedy assassinado, e Kruschev deposto.

Pouco depois do fim do governo Kennedy-Kruschev, o mundo enfrenta o que alguns historiadores chamam de Segunda Guerra Fria, com o Vietnã começando em 1965. Vale lembrar que, nessa guerra, os EUA entraram sozinhos, sem apoio de qualquer aliado. Outro sinal de que a guerra não estava tão fria assim entre as duas superpotências foi Yom Kipur, em 1973, que envolveu a Síria, Egito e Israel, antes do conflito do Vietnã acabar (1975). Os EUA apoiaram Israel na ocasião.

A ameaça constante de guerra, chegando até os conflitos armados que desmoralizavam os EUA inclusive entre os seus, criou movimentos internacionais de paz e, principalmente, pelo desarmamento nuclear (com a adoção do logotipo antinuclear por grupos da contra cultura pós-68). Jovens americanos se rebelaram ao serem recrutados para o Vietnã. Aquele filme chatíssimo, Hair, aponta essa forma de protesto.
Não dá mais para começar matéria dizendo que as guerras modernas têm "vítimas invisíveis", e outras expressões como "guerra impessoal" e "guerra tecnológica". Chavão. E falso! (nem todos são). Analisei umas semanais mais antigas, as primeiras que sairam depois do início da invasão dos EUA no Iraque. Data: 24 de março. Na ocasião, a Veja dedicou 29 páginas à cobertura da guerra. O conteúdo foi dividido em sete matérias e, justo a primeira delas, é um relato dos números que apontam para a superioridade do poderio militar americano, descrevendo os mecanismos dos mísseis guiados por informações de computador e satélite, que tem, segunda a revista, "margem de erro do alvo inferior a 1 metro". E lá pelas tantas, sem fatos que confirmem essa afirmação, ela aparece: a guerra do Golfo, em 1991, foi um ensaio de guerra pós-moderna (a atual), "cirurgica, altamente tecnológica e, por isso, precisa, coberta ao vivo pela televisão". Ah, sei.